domingo, 31 de janeiro de 2010

...Próximo passo.

Luiz Antonio Gabriela


Por Nelson Baskerville

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

em busca dos sonhos perdidos

Ele que um dia foi,
hoje não é mais...
Seus olhos que tanto brilharam em outrora,
hoje ofuscados estão com a escuridão da noite.
Noite à dentro ele vai,
vai procurar respostas em sua boa e velha
companheira, a lua.
...Que ainda hoje insiste em se esconder.
São Paulo, 30 de janeiro de 2010
1h16, o homem precisa deitar,
tomado por um rompante,
concluiu que sonhará novamente,
só não sabe se daqui 1 hora
...ou 80 anos.

Referência

"Meu pai não deixava minha mãe sair sozinha, por isso ela sempre me levava junto quando se encontrava com Armando. No caminho, ela me comprava uma revistinha do Mickey e balas.

Ela me levava até uma sala que parecia a sala de espera de um consultório médico. Dizia sorrindo que eu podia me deitar no sofá, ler ou dormir, que o apartamento era muito lindo, não?, que Armando ficava muito contente de eu estar ali, que eles precisavam discutir algo importante, mas que não iria demorar. Os olhos dela brilhavam como cebolas em conserva.

Enquanto esperava, eu furava os olhos do Mickey em todas as páginas.

Quando terminava, ficava de um lado para o outro na sala.

Comia todas as balas.
O coração batia na minha cabeça.
Lá fora, escurecia.
Dentro da sala, começava a nevar.
O sofá congelava.
As paredes congelavam.
Meus pés e minhas mãos congelavam.


Meus olhos.

A neve me cobria."


Aglaja Veteranyi em "Por que a criança cozinha na polenta"

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

onde estão as palavras?

Moça, preciso lhe dizer,
mas não sei com quais palavras,
referências, quais?
Com quais versos?
Estrofes
...Cifras e acordes?
Preciso lhe dizer do bem que você me faz
...E da angústia que você trás
quando longe está.
Sílaba por sílaba preciso tentar lhe dizer
moça
Sobre o poder do teu olhar,
quão enfeitiçado, hipnotizado
...descontrolado fico eu.
Tem algo em seus olhos que a gramática ainda não soube inventar a palavra,
a mesma palavra que me falta pra descrever
o chão que sai dos meus pés, quando sustentado fica seu cheiro no ar.
Preciso lhe dizer, minha moça...
Da sensação que tenho quando tua pele
Entranha-se na minha
Cadê? Cadê? Cadê?
...as palavras correm,
como se ao efeito de um alucinógeno
estivesse eu lendo um livro.
Inquieto.
Preciso lhe dizer moça,
que minha alma voa por entre os continentes
quando meu corpo ao seu lado está;
Que trocados ficam meus órgãos vitais
por inúmeros corações,
que dentro do meu corpo batem aceleradamente,
aceleradamente batem corações dentro do meu corpo,
quando sua boca vem ao encontro da minha.
Mas não são essas as palavras.
Boas metáforas? Talvez...
Tem quem diga que uma das palavras seria:
Amor...
Mas buscando uma das minhas referências,
que se segue na voz de Joanna:
“ninguém morre de amor”.


...Mas lhe digo uma coisa, moça
...Minha menina,
Ou minha referência errada está,
ou a palavra não é amor,
pois,
moça, preciso lhe dizer:
Na ausência desse “amor” morreria após poucos segundos de vida.
E na ausência dessas palavras, estou como Kavafis
...À espera dos Bárbaros.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ruína

"Um monge descabelado me disse no caminho: eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha idéia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado pro arcaíco ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto.)

Continuou: a palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como um lírio pode nascer de um montouro*.

E o monge se calou descabelado"

por Manoel de Barros

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"sol"

O sol voltou a brilhar na cidade grande,
na petrificada cidade...
na cidade que deveria ter como codinome: insônia
e solidão como pseudônimo.
Sol em vão.
Tirando por algum espaço de tempo as nuvens escuras,
voltando a brilhar em cima do cinza
do inacabado
Talvez não dure muito, é fato.
Sejamos realistas.
É fato: não vai durar parcas horas
Logo mais se finda o aquecimento da alma.
Mas, enquanto o sol brilha na insônia,
comemoremos o aquecimento do cinza!
O calor da solidão,
comemoremos juntos!

...

"Minha alma, de sonhar-te, anda perdida. Meus olhos andam cegos de te ver! Não és sequer razão do meu viver, pois que és já toda a minha vida!"
Florbela Espanca

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

convivendo com o frio

Está nevando dentro do meu quarto
neve
frio
congela
paralisa...Deixa tremulo.
Minhas mãos, nunca tão brancas,
nunca tão abertas,
deixam escorrer por entre os dedos
o vazio.
Alguns nomes, cenas, fantasias
lugares, nomes,fantasias e cenas
ecoam na minha cabeça,
não há música que me faça parar de escutar ecos
não há cobertores que me façam parar se sentir frio
não há absolutamente nada no mundo
não há absolutamente nada no mundo
não há absolutamente nada no mundo
não há absolutamente nada no mundo
que preencha o vazio,
o aroma da água petrificada que aqui se instaurou.
Dentro do meu quarto está nevando...

Você trocaria todo o seu passado por um presente em branco?

"Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou (...). Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar.Re-amar. Amar."

Caio Fernando Abreu

domingo, 24 de janeiro de 2010

saudades do tempo em que eu era menino...

Depois de um belo banho de chuva, me encontrei na tarde desse domingo com alguns amigos de infância, uma infância não tão longínqua assim, mas que me arrasa de tanta saudade. Períodos da vida em que não sonhávamos tanto, agíamos mais, por isso, talvez, nos decepcionássemos menos... Vi em meus amigos as mesmas caras, os mesmos cabelos, os mesmos olhares; sim, é nítido um amadurecimento em todos nós, como também é nítida uma saudade do tempo em que os joelhos eram todos ralados pelo vigor... Sinto em meus amigos, ainda hoje, um cheiro de merenda de escola... Sinto em meus amigos a saudade do que fui. Obrigado! Obrigado pela fidelidade durante tanto tempo. Obrigado por fazerem parte da minha infância e da minha "vida adulta". Obrigado por não pedirem nada em troca da minha amizade, exceto que eu relembre os momentos em que tomávamos banhos de chuva na porta da igreja da rua, só pra tentar matar o padre de raiva...


“… um dia desses na vida, depois de bastante ter ido, regressei aldeota de amigos. Tinha quase outro olho. Era tudo mesmice de boa gente. A casa, a rua, passeios de adormecer de sol. Até o tempero era o mesmo, banhando a boca de desejo de comida de mãe…”
Gero Camilo

Sentindo falta da paz...

Até agora eu não me conhecia,
julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
E a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!
Florbela Espanca


...da paz que meu Lunário Perpétuo me trazia

lá se foi sua máscara...

Hoje é dia de luto, dia de vazio...Um vazio que me consome "dentro de mim tudo se dissolve e um vento me atravessa". Um dia de arrependimentos por escolhas equivocadas, um dia de descrença no ser humano...Um dia de decepção profunda.
Aquilo que pra mim era perfeito, descobri que era fruto da minha imaginação fértil. Descobri mentiras entrelaçadas em "cheiros de edredons", descobri a mentira no que, até então, era o mais puro dos olhares. Descobri o porquê da falta de atitude, da falta de tesão, da falta de conforto, da falta...Da falta...E das inúmeras faltas. E eu, que já tinha construído quarteirões depois do infinito pra poder te amar mais... E eu, que sorrateiro planejava futuros sólidos, eu que dividia com você a última parte do chocolate, fico aqui, pasmo, "idiotizado" com tamanha falsidade, tentando me levantar desse abismo que se instaurou, tentando acreditar novamente nas pessoas, no olhar e em cada gesto que se segue. E eu, eu fico aqui, procurando alguém p/ quem eu possa levar uma "paçoca amor" depois de um dia de trabalho.
Muito obrigado por ter cortado as veias “plugadas” no meu coração... Muito obrigado por deixar meu coração dentro do congelador!
Muito obrigado por atrasar minha vida...

Dicas...

Deixo duas boas dicas p/ "lazer"

Cinema: "Hamani-cerejeiras em flor" Filme lindo, delicado, de uma sensibilidade que me fez deixar um rio de lágrimas na sala de cinema.

Teatro: "rainhas(s) duas atrizes em busca de um coração" No TUCA, o bom teatro sendo feito com maestria!

Enfim as palavras...

Depois de muito enrolar, hoje realizo uma das minhas "promessas" de virada de ano. Aquele tipo de coisa que se faz consigo p/ que seja realizado no ano seguinte. Objetivos propostos!
Começo hoje um blog, não por egocentrismos (acredito eu), mas sim por uma vontade de outrora de colocar em palavras os meus sentimentos, angústias, aflições, anseios, paixões...Tirando o fato, claro, de ser um jornalista de formação e não atuar na área, servira também p/ exercitar minha escrita.
Não quero com minhas palavras ser dono da verdade (por isso o blog tem o nome de Efêmero), mas quero sim, apontar alguns caminhos que acho bonito/correto/sensível/sensato. Escreverei sobre tudo que me der vontade (rsrs), não será em momento algum, um blog destinado p/ um seguimento específico. Escreverei sobre teatro, literatura, cinema, angústias pessoais e momentâneas, etc.

Acho que é isso... Talvez ninguém leia, e acredite, isso não vai me fazer mal, mas definitivamente eu preciso colocar em palavras/imagens aquilo que carrego dentro do meu coração/cerebro.

beijos, muitos!